195 anos de Brooks Brothers

9 de abril de 2013

Brooks Brothers em 1818
Ontem recebi um e-mail comemorativo dos 195 anos da Brooks Brothers. Isso mesmo, a loja de roupas masculinas mais antiga dos Estados Unidos está comemorando 195 anos de idade. É muita loucura pensar em uma loja tão velha assim. Quando assumiu a presidência dos EUA pela segunda vez em 1965, Lincoln estava vestindo um casaco feito sob medida pela Brooks Brothers, que tinha a seguinte frase bordada no forro: “One Country, One Destiny”.

Detalhe do forro do casaco de Lincoln, Bordado a mão: "One Country, One Destiny"




Teddy Roosevelt vestia uniforme feito pela Brooks Brothers quando vitorioso na batalha de San Juan Hill, e mais tarde vestiu um terno da mesma quando prestou juramento como presidente dos Estados Unidos. Quando Franklin Roosevelt viajou para se encontrar com Churcil e Stalin em 1945, a capa que ele vestia tinha o logo da Brooks Brothers.

Traje Brooks Brothers de Abraham Lincoln.
O uniforme de Teddy Roosevelt, Brooks Brothers
Churchil, Franklin Roosevelt e Stalin. A capa do presidente americano foi feita especialmente pela Brooks Brothers
O símbolo da marca é tosão de ouro, uma ovelha suspensa por um laço. O símbolo representa a boa lã desde que Filipe O Bom o escolheu como o emblema da sua “Ordem do Tosão de Ouro”. Mais tarde,  mercadores de lã por toda a Europa adotaram o emblema como uma forma de publicidade. Os irmãos Brooks, que queriam alinhar a loja com a tradição indumentária europeia, fizeram o mesmo.

Colar e broche da Ordem do Tosão de Ouro
A história da Brooks Brothers começou em 1818 quando Henry Sands Brooks abriu sua primeira loja em Nova Yorque, com o nome de H. & D.H. Brooks & Co. Na época Manhattan era uma cidade costal de pouco mais de 125 mil habitantes. Neste mesmo ano a Casa Branca reabriu depois de queimada durante a guerra  com a Inglaterra. Foi neste ano também, que o Congresso Americano decidiu que a bandeira dos Estados Unidos teria 13 listras vermelhas e brancas e vinte estrelas. O conceito era ser ao mesmo tempo o fabricante e o vendedor (“Makers and Merchants “),  assumindo o controle absoluto da qualidade em todos os pontos da operação.  Em 1915 a Brooks mudou sua sede para o endereço 346 Madison Avenue, em Nova York. Quem for à cidade hoje, encontra a loja ainda no mesmo lugar. 

A história dos Estados Unidos está entrelaçada à Brooks, que vestiu 39 dos 44 presidentes na americanos. Em 1949 os pioneiros da corrida do ouro na Califórnia não tinham tempo para ficar nas mãos de um alfaiate.  A Brooks foi rápida ao perceber a oportunidade e disponibilizar ternos prontos, “ready-made”, uma inovação introduzida para ajudar os ambiciosos caçadores de riquezas. Na década de 20 Scott Fitzgerald imortalizou a marca em sua obra, e o texto de Este Lado do Paraíso foi fonte de solução para uma disputa entre Brooks Brothers e Brooks Clothing, acusada de se apropriar do nome

"You must go to Brooks' and get some really nice suits. ~ Este Lado do Paraíso

 Diplomadas, duques, banqueiros, artistas, presidentes puseram os pés nas lojas da marca. John F. Kenedy casou de Brooks Brothers e favorecia o terno Number 2 durante a sua presidencia e houve uma época que não era incomum ver Clark Gable, que só vestia ternos Brooks Brothers, sendo medido para uma camisa ou experimentando um sapato; ou até mesmo o Duque de Windsor levando para casa um par de pijamas coloridos.

John F. Kennedy favorecia o terno No. 2, com um corte mais ajustado
Clark Gable, cliente fiel.
Andy Warhol - Brooks Brothers "Sack Suit" e "Rep Tie"

O tempo passou desde 1818. O primeiro metrô foi inaugurado em NY no ano de 1870. A Kodak nasceu em 1884. Karl Benz registra patente do primeiro carro movido a gasolina, em 1894 a Coca Cola é vendida em garrafas pela primeira vez e em 1896 a Grécia recebe a primeira Olimpíada moderna. E foram os Jogos Olímpicos que trouxeram mais uma inspiração para a fabricante de roupas masculinas. John E. Brooks, neto do fundador, observou que a gola das camisas dos jogadores de Polo eram abotoadas para que elas não ficassem balançando com o vento. John anotou a descoberta e incorporou a idéia nas camisas sociais, e assim nasceu a a Button-Down shirt, aquela camisa com botões no colarinho, um clássico da Brooks Brothers que muitos consideram a roupa mais copiada na história da moda.


E a Button Down Shirt não é o único produto da Brooks que virou febre, colaborando em grande parte para o nascimento do que hoje conhecemos como “Preppy”, ou melhor “Ivy League Style”.  Em 1900 o terno de três botões saiu de moda e deu lugar aos terno de dois botões. Os estudantes, sem dinheiro para comprar a última moda, pressionavam a lapela dos paletós velhos para virá-las por cima do botão mais alto. A Brooks adotou esta idéia e criou o terno “The Number One”, com um ombro  aparado e natural, sem ilhargas na frente, e um terceiro botão (o mais alto) não funcional, com a lapela pressionada sobre ele. O Number One “Sack Suit” foi o terno do mundo corporativo dos Estados Unidos por mais de 60 anos, e se você entrar em uma Brooks Brothers hoje ainda pode comprar os mesmos sack suits.

Carry Grant, com um terno com três botões, sendo que a lapela fica prensada sobre o mais alto. A casa do botão é costurada de forma que o lado bem acabado fica para fora.

Outras peças notáveis, clássicos do estilo ivy, introduzidas pela Brooks Brothers são a camisa de Madras, as gravatas Rep e o suéter Shetland e o casaco de Polo:

 Em 1902 a Brooks foi a primeira a incorporar em sua linha as camisas feitas com o algodão xadrez Indiano, conhecido como Madras. A tintura natural desbotava e mesclava com as outras cores do xadrez, criando um efeito casual e desprocupado, favorito para o clima quente e dias casuais. O tecido também era muito usado para fazer peças de patchwork, e mais tarde, durante o auge do estilo Ivy, até os blazers ganharam o tratamento colorido. 

George Bush pai com seu blazer madras, serviu de inspiração de estilo para...
Nick Wooster, nos dias de hoje
Em 1903 eles invertem a direção das listras das gravatas Regimentais Inglesas e lançam a “Rep Tie”, separando a forma do significado até então militar, e assim liberando o padrão para todas as pessoas. Alguns modelos de gravata listrado são quase que uma marca registrada da Brooks Brothers.
Brooks Brothrs N 1 Rep Tie
 Em 1904 traz para os Estados Unidos os suéters feitos com lã tradicional da ilha de Shetland. Os modelos de diversas cores viraram uma sensação entre os os homens e surpreenderam agradando bastante as mulheres, abrindo as portas para o mercado feminino. 

Tintin com o seu shetland azul...
E a lãzinha que coça, versão Brooks Brothers
Também trouxeram o Polo Coat, é um modelo de casaco de lã de camelo tradicionalmente ingles que era vestido pelos jogadores de polo para ficarem aquecidos antes e depois do jogo. O modelo virou uma febre nas universidades Americanas em 1920 que impulsionaram o casaco para o cenário da moda. Em 1950 perdeu lugar para os trench coats, e apesar de ter resurgido nos anos 80 nunca mais retornou à sua glória antiga, mas que ainda da as caras nos sites de moda




O Seersucker Suit, terno de anarruga vestido por Dustin Hoffman em The Graduate, e preferido dos estados sulistas durante o calor e que tem pipocado na lista de tendência dos últimos anos, foi introduzido pela Brooks em 1935. O terno característicamente Americano cruzou as fronteiras e encontrou um bom lar nos dias mais quentes da Itália, por exemplo:

Dustin Hoffman: Seersucker e cambraia, combinação do calor.


Hoje, a Brooks Brothers pertence ao bilionario Italiano Claudio del Vecchio. Além de seus modelos tradicionais, também vende versões atualizadas, como as camisas Slim Fit e Extra Slim Fit, o terno “The Regent” com linhas mais slim e lapelas mais estreitas. Também tem um modelo chamado The Fitzgerald, que é ainda mais slim. Os sapatos são produzidos pela Peal & Co, sapateiros de Londres que a Brooks comprou em 1965. Parte da produção mudou para fora dos Estados Unidos, mas muitos produtos ainda são feitos nos seu país sede. Em 2008, comprou uma fábrica de 70 anos de idade em Massachusetts e em 2009 construiu mais uma. Sempre se atualizando para manter a relevância, fez uma parceiria com Thom Browne para lançar a linha Black Fleece,  podendo ser mais agressiva sem comprometer a linha tradicional.

Brooks Brothers Black Fleece - Ternos mais curtos,  a lá Thom Browne pelo próprio Thom Browne
É lógico que a Brooks Brothers de hoje é diferente da do passado, afinal todo negócio precisa se atualizar e se reinventar para continuar relevante. Muito do que a Brooks vendia oitenta anos atrás ainda recheia as prateleiras da loja. Os cortes, as camisas, e o estilo permanece praticamente o mesmo. Esse conservadorismo sempre fez parte da marca, que nunca vendem peças de design exagerado. Modinhas sempre foram tabu, assim como alterações repentinas no design e modelagem. Os puristas dizem que a manufatura da loja á não tem o mesmo padrão que tinha. Desde sempre também são acusados de caretas e conservadores; mas o termo  é relativo já que hoje em dia é difícil achar paletós mais extravagantes ou calças tão coloridas quanto as da seção esportiva de uma de suas lojas.


Quem estiver interessado, este artigo de uma revista publicada em 1950 está recheado de anedotas muito interessantes, como a de um cliente que comprou um sapato e 30 anos depois voltou a loja para restaurá-lo e reconheceu o mesmo vendedor. Com quase 200 anos de idade é engraçado pensar que uma loja fabricante de roupas conservadora de "temperamento forte" seja a grande sobrevivente enquanto lojas e marcas mais atualizadas e antenadas abrem e fecham aos montes.  

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